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NO FUNDO, UM PURO SANGUE INGLÊS

Para entender melhor as raízes do cavalo Quarto de Milha e como tudo começou, não podemos deixar de falar na história da colonização americana, nem da contribuição que ela trouxe ao rebanho de eqüinos que já existia no continente nos séculos 17 e 18.

Tendo como exemplo o  Brasil, país com dimensões territoriais bem semelhantes aos EUA, podemos dizer que o país também recebeu contribuições genéticas ao seu rebanho eqüino desde o seu descobrimento, formando através dos tempos uma diversidade de cavalos, que se desenvolveram e foram reflexo das condições econômicas, de solo e clima em que viviam. Exemplificando, temos os cavalos do nordeste, os Piquiras; nascidos e criados num clima árido, com pouca água, muita insolação e alimentos com baixos valores nutricionais (cálcio e proteína); por viverem desta forma, adquiriram uma estatura baixa, alta resistência física, um alto índice de fertilidade e uma rusticidade, desproporcionais ao seu tamanho. Já no centro-oeste e no pantanal encontramos os Pantaneiros, uma outra variação, também com muita rusticidade e completamente adaptados a permanência em terrenos encharcados, buscando alimentos submersos sem sufocar e não apresentando problemas tão comuns aos animais que vivem nessas condições, que é o apodrecimento dos cascos. Mais ao norte temos o cavalo das planícies de Roraima, indivíduos de uma espécie, que são objetos de estudos, por serem portadores do vírus da AIE e não desenvolverem a doença dentro de seu habitat natural. Indo em direção ao sul temos os Crioulos e para onde nos dirigirmos, tantos outros animais de igual importância, como os Mangalargas e etc.

Nos EUA, a marcante influencia colonizadora dos ingleses veio por volta de 1600, partindo do litoral rumo ao interior e a dos espanhóis do sul do país e da América central, também com direção ao interior. Dos espanhóis a contribuição se deu através dos cavalos da península ibérica, os andaluzes e os lusitanos e alguns exemplares de árabes ou pérsas, atualmente a região onde é o IRAN, que imprimiram suas características ao rebanho existente. Usado na guerra de independência do México, antes mesmo da demarcação da fronteira  com o estado americano do Texas, esses animais nas mãos de Zapata e seus seguidores, já provavam suas habilidades e resistência em combate, nos solos pedregosos e de clima quente e seco.

Dos ingleses a contribuição maciça veio através de duas raças: Do PSI, que servia inicialmente de montaria para soldados e os Bretões e Percherões, animais de tração e de grande estrutura, que eram utilizados para atrelagens às diligências, para rebocar canhões e paramentos bélicos. 

Por serem os ingleses os patrocinadores da revolução industrial, no final do séc 19, o território americano começou a ser rasgado pelas estradas de ferro, com suas locomotivas à vapor, levando progresso e desenvolvimento, escoando a produção de ouro, minério e fazendo o transporte de tropas e do gado. Contudo, eles não estavam sós; esse movimento desalojava as tribos indígenas e provocavam reações, despertando sua ira e seu instinto de proteção a terra, e, principalmente sua curiosidade e sentimento de cobiça pelos animais do oponente. Muitos desses animais caíram por terra flechados ou feridos a bala , mas muitos também foram capturados pelos índios, passando de mão em mão até chegarem aos caciques e guerreiros vencedores do combate. Desde o tempo de Billy the kid esses animais eram usados como símbolos de conquista e como reprodutores, servindo as éguas nativas e, dando assim, a sua contribuição genética ao rebanho das tribos ou ao rebanho dos ranchos dos ladrões, que, por sua vez, roubavam os melhores animais dos índios com a mesma finalidade.

A transformação morfológica do rebanho de eqüinos foi registrada em fotografias feitas no final do ano de 1898, onde se concluiu que as tribos que conseguiram resistir por mais tempo ao homem branco, como os Sioux e Cheyannes, tinham cavalos geneticamente melhorados, maiores, mais robustos e mais rápidos, que outras tribos, que quando não dizimadas, vagaram sobre o lombo de animais pequenos, com ossos pontiagudos e doentes até seu desaparecimento total. Na carta do chefe Seattle enviada ao presidente dos EUA em 1885, em resposta a proposta de compra de suas terras, é ilustrado a relação estreita dos índios com os cavalos (carta considerada autentica pela UNEP – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

A chegada do progresso trouxe a importação de verdadeiros rebanhos de bovinos das raças  HEREFORD e LONGHORN. O crescimento das fazendas de criação de gado tornaram-se, então,  um negocio rendoso e atrativo, aquecendo a economia do pais e especialmente de algumas regiões, como o Texas, Kansas e Virginia. Entretanto, o crescimento forçava os homens da lida (peões) a percorrerem grandes distancias e a tomar o lugar, até então ocupado pelo búfalo, em busca de pasto nativo para seus animais, sofrendo nesse trajeto todo tipo de adversidades, desde as intempéries aos ataque dos índios; promovendo mais as inserções genéticas. Sendo assim, até que a ordem fosse totalmente instalada, passaram-se 30 anos de muita turbulência. E o cavalo americano começou a ter, no cenário do país, a importância que merecia.

Perdido para os índios e recapturado pelos fazendeiros, ele serviu de moeda, foi motivo de muitas mortes e foi o símbolo do progresso e da conquista do oeste. Pelos idos de 1880, já existiam ilustrações reproduzindo o dia a dia das fazendas, mostrando o trabalho nos currais, com cavalos apartando e encurralando bezerros e nos campos, e outros esticando a corda do laço para imobilizar reses prestes a serem ferradas. Além de estarem presentes nos SERVIÇOS DE MENSAGEM, que eram enviadas de um Forte a outro ou de uma cidade a outra, feito normalmente em galope continuo.

Depois da batalha entre os Rebeldes e os Soldados Confederados, das regiões que mais se beneficiaram com a chegada da lei e da ordem, surgiram os primeiros ranchos organizados e estruturados, onde começou a existir a preocupação com a seleção de animais portadores do cow sence (senso de gado), para atender a demanda de cavalos de serviço. Em outras regiões não muito distantes, de influencia Aristocrática e Vitoriana, o interesse era por animais velocistas, para manter a tradição inglesa de competições de corrida. Nestes últimos, as apostas eram feitas com disputas entre 2 ou mais animais por vez e nas distâncias entre 400m e os 2.000m.

Inicialmente, segundo constam os registros, as competições eram realizadas aos domingos após a missa e eram abertas a garanhões, éguas, potros e qualquer outro animal que estivesse em condições de disputa-la. Têm-se relatos de animais comuns que chegavam selados ou que eram desatrelados de suas carroças para competir com os cavalos de sela do dono da propriedade sede dos eventos. Estes animais, da mais pura origem britânica, nas curtas distâncias eram geralmente derrotados pelos animais de serviço e por outros da mesma raça, dotados de uma morfologia menos esguia e mais atarracada.

Entre a brincadeira e o movimento de apostas, os ranchos começaram a fazer cruzamentos específicos de animais nativos e de trabalho, que vinham se destacando nas canchas, com os de sangue inglês ou árabe, com o intuito de produzirem animais com maior capacidade aeróbica, rusticidade, velocidade e bom temperamento, além de um porte exuberante.

E dessa iniciativa, um grupo de criadores Norte-americanos e da República Mexicana resolveram fundar, em 15 de março de 1940, a American Quarter Horse Association (AQHA), em College Station, Texas. Com um padrão morfológico, genético e de temperamento pré-estabelecidos, foram registrados os primeiros animais de origem inglesa ou considerados por cruzamento próximo, portadores das características que iriam compor as árvores genealógicas da raça. Wimpy foi o RG número 1 do livro dos puros.

Assim como a arquitetura é influenciada pela economia da região, a criação de cavalos QM teve um grande desenvolvimento no período pós guerra, onde o impulso agro-tecnológico imposto ao pais, norteou os principais criadores a atenderem a demanda, que naquele momento estava voltada para o comércio de animais específicos de corrida e de lida com o gado; foram então buscar no passado e no PSI a razão do seu melhoramento genético. Partindo de animais QM cruzados com éguas inglesas e observando a herdabilidade que se estava pretendendo ter, os primeiros produtos desse cruzamento foram registrados no Stud Book da raça, no Livro de Cruzados Puros. Mas por ser ainda nova e com muitas variações em seu padrão racial, para a sustentabilidade da raça, abriram também a possibilidade de registrar animais machos de origem inglesa, através de provas de Registro de Mérito em Corrida ou em Trabalho. Provas essas que enquadravam o animal no regulamento e no padrão racial do QM, desde que o mesmo atingisse os índices e tempos impostos pelo regulamento interno da Associação.

Sendo assim, podemos dizer que da antiga à era moderna, o QM foi visto e explorado por vários ângulos diferentes. Foi chamado de cavalo versátil, encontrou poderosos criadores que defenderiam a bandeira da conformação. Conviveu com apostadores, que constantemente importavam velocistas da Inglaterra, e finalmente com os tradicionalistas, que representam até hoje as mais antigas linhagens de trabalho americana...

Desse universo e com a perseverança de muitos, se perpetuaram os Bar, os Leo, os San, os Doc ,os Pep e os Jet, além de outros, que hoje embora distantes ou desaparecidos, representam os ancestrais dos nossos cavalos e ajudaram a formar as linhagens atuais, contando a história da origem do Quarto de Milha.Fonte: Cavalocompleto.com.sapo.pt/

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