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Alfafa: a grande forrageira

A imagem de fardos de alfafa está associada indissoluvelmente à presença de cavalos. Para chegar a esse status, a Medicago Sativa (da famí1ia da canabis sativa, ou maconha) percorreu um longo caminho, desde os distantes campos de cultivo até os cochos dos cavalos de raça.
     De origem asiática, a alfafa é uma planta forraginosa da família das leguminosas, subfamília papilonácea, sendo muito rica em proteínas, vitaminas e sais minerais. No Brasil, seu uso é restrito à forragem de cavalos de esporte, principalmente devido aos altos custos de produção, sendo raramente utilizada na alimentação de outros animais ou em rações industrializadas. No resto do mundo, notadamente na Argentina, é empregada para alimentação do gado de leite, o que melhora substancialmente a qualidade do leite fornecido, segundo o engenheiro agrônomo Ademir Honda, de Cambará (PR), "porque aumenta a fertilidade das fêmeas, além de propiciar um corte de 50% no fornecimento de rações complementares". Para Honda, "se tivéssemos uma produção de alfafa mais barata no Brasil, conseqüentemente teríamos leite a preços mais acessíveis e de melhor qualidade".
     A alfafa é usualmente consumida na forma de feno, o que facilita o transporte e a estocagem. O processo de fenação retira 75% do líquido sem prejuízo do valor nutritivo original e das propriedades fibrosas. Um cavalo consome, em média, 5 quilos de feno por dia, que pode ser de alfafa ou de capim da espécie Cynodon Dactylon, comumente chamada de Bermuda (coast cross, tifton 85, florakirk, jiggs etc).
     O engenheiro agrônomo Paulo Nania, do Centro de Treinamento do Jockey Club de São Paulo, em Campinas (SP), é contrário à ingestão da alfafa pura pelos cavalos estabulados, principalmente pelo excesso de proteína bruta em quantidade acima da necessária para os cavalos de competição. Ele recomenda uma associação com feno de gramíneas, como o coast cross, por exemplo, e cita três razões importantes: 1) A alfafa pura aumenta a necessidade de água pelo aumento da ingestão de proteína; 2) Os níveis de uréia aumentam no sangue e podem causar distúrbios intestinais como enterotoxemia; 3) O aumento da amônia no sangue causa problemas como irritação nervosa e distúrbios no metabolismo dos carboidratos.
     Segundo Nania, o odor amoniacal da urina é observado em cocheiras com animais submetidos a excesso de proteína. Esse odor também pode causar problemas respiratórios nos animais confinados. Um estudo comparativo mostra que é possível observar as diferenças entre uma dieta balanceada com feno de capim coast cross e outra, com alfafa pura, em um cavalo de corrida de 4 anos e 500 quilos.
     Esses métodos mais modernos são, todavia, contestados por alguns especialistas. O veterinário Renato Pires de Oliveira Dias, formado pela USP, já atendeu muitos campeões, como Quari Bravo, do Haras Phillipson. Para ele, tais métodos modernos são pouco mais que comodistas e econômicos, porque a ração balanceada já vem pronta para o uso e o feno de gramíneas é "comprado no vizinho". "A ração é balanceada para quem?" pergunta Oliveira Dias. "Os indivíduos são diferentes e o que é bom para um não será ideal para outro. A alfafa custa quase três vezes mais que o coast cross e tem quatro vezes mais proteína digestível e cálcio. A alimentação tradicional dos cavalos sempre foi alfafa e aveia. Só que a aveia precisa ser achatada pouco antes do consumo para não perder valor nutritivo em função da oxidação dos componentes. "Tudo isso demanda mais trabalho e custa mais caro, por isso nem sempre os criadores estão dispostos a investir. O veterinário apóia seus argumentos nas vitórias do já citado Quari Bravo, além de Puerto Madero, criado no Haras Guaiuvira; Exacta Camara e Autumm Lady, criados no Haras Truc; Moustak, Holly Hostage e Fair Hostage, no Haras Verde Vale; e Gina Gitana, Point Du e Last Ko, no Haras Santa Camila.

Dieta tradicional – Segundo Oliveira Dias, todos os haras que tratavam seus cavalos com ração balanceada e feno de gramíneas, quando voltaram para a dieta tradicional, conseguiram excelentes resultados. "O cavalo de corridas fica adulto em dois anos, precisa de uma alimentação muito rica para sustentar esse desenvolvimento acelerado". Outro argumento do veterinário é que uma leguminosa produzida em regiões mais distantes proporciona mais variedade, em função dos microelementos diferentes. "Comprar feno do vizinho oferece, em geral, alimentação parecida com a que o potro já tem no pasto o tempo todo". Segundo ele, as gramíneas associadas à ração balanceada produzem cavalos leves de osso e com pouca musculatura, enquanto a associação alfafa – aveia induz a uma boa ossatura e musculatura. Oliveira Dias só defende o uso do feno de coast cross de 24 a 48 horas antes da corrida, em substituição a alfafa, por ser de mais fácil digestão.

Capins da moda
    
Para aqueles que defendem, como Paulo Nania, o uso consorciado da alfafa com gramíneas, diversos capins bermuda são considerados como as forrageiras mais indicadas para pastoreio, fenação e, mais recentemente, para a confecção de silagens pré-secadas. Quando bem manejadas, são mais tolerantes ao pastoreio (lotação) e produzem mais feno e pastagem por unidade de área. Atualmente, vários híbridos de bermuda estão disponíveis no mercado.
     Dentre as várias alternativas, o coast cross, o tifton 85, florakirk e o jiggs vem sendo cultivados especialmente no Sudeste do Brasil, onde se desenvolvem bem adaptados ao clima dessa região. Entre as décadas dos 50 aos 80, porém, capins como o rhodes, pangola, kikuiu e pensacola foram bastante utilizados, sendo depois substituídos pelas novas espécies. Conheça algumas características desses novos híbridos:

Coast cross - É um dos mais conhecidos do gênero no Brasil. É largamente utilizado em Cuba, México, Porto Rico, Venezuela e Brasil, mas não é usado nos Estados Unidos devido a baixa resistência ao frio. É um híbrido obtido do cruzamento do cultivar coastal e uma introdução de bermuda, de alta digestibilidade, pouco tolerante ao frio, proveniente do Quênia. Esse capim não cobre rapidamente o solo, mesmo tendo estolões vigorosos, o que o deixa susceptível à invasão por outras espécies. Possui colmos finos e boa relação folha–colmo, que se modifica conforme o manejo.

Tifton 85 - Lançado em 1992, o tifton 85 foi desenvolvido por Glenn W. Burton, na Coastal Plain Experiment Station, da Universidade da Geórgia. Essa forrageira é um híbrido entre a introdução sul-africana e tifton 68, sendo considerado o melhor híbrido obtido no programa de melhoramento daquela universidade. O tifton 85 é uma gramínea de porte mais alto, apresenta colmos maiores, possui folhas mais largas e apresenta cor mais escura do que as outras bermudas híbridas. Traz, também, uma melhor relação folha–colmo do que o tifton 68, o que lhe confere melhor qualidade, sendo também indicado para fenação.

Florakirk - Híbrido lançado em 1994 pela Florida Agriculture Experiment Station. O florakirk é uma grama resistente ao frio. Um estudo realizado na Flórida, avaliando o efeito da freqüência de pastejo em alguns cultivares de cynodon sobre o controle de invasoras, mostrou que o potencial da florakirk é muito maior que os demais cultivares, pois suporta melhor terras úmidas e períodos de encharcamento, comparado às demais variedades.

Jiggs - Uma das mais recentes introduções no Brasil é um capim de grama bermuda, selecionado por um fazendeiro do leste do Texas, nos EUA. Suporta bem os períodos de estiagem e apresenta crescimento superior aos demais cultivares de grama bermuda durante esses períodos. Segundo o agrônomo Paulo Nania, é uma variedade que apresenta características interessantes para as condições climáticas brasileiras, com um alto potencial de adaptação.
     Nos últimos 50 anos, muito se fez pelo melhoramento de plantas e desenvolvimento de híbridos, com o objetivo de modificar as características agronômicas e qualitativas das gramas. Esses híbridos são referidos como linhagens melhoradas de bermuda comum, perenes e bem adaptados às condições de clima tropical e sub-tropical, mais produtivos, de melhor qualidade e mais tolerantes ao frio. Todos são estéreis e sua propagação é vegetativa.
     O principal objetivo da introdução de novas variedades de bermuda no Brasil é, na opinião de Paulo Nania, o aumento quantitativo e qualitativo das pastagens. O uso dos híbridos de bermuda permite maior capacidade de suporte, diversificação, maior produtividade e melhor utilização da área.

FONTE:
Revista Puro Sangue Inglês – Número 59 - 2000
Editora Segmento Ltda

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