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BAMBEIRA OU MIELOENCEFALITE POR PROTOZOÁRIO.

BAMBEIRA OU MIELOENCEFALITE POR PROTOZOÁRIO (MEP)
Henrique Noronha
02/04/2008
“Mieloencefalite eqüina por protozoário (MEP) é uma doença neurológica, infecciosa e freqüentemente fatal de eqüinos”, conhecida também por “bambeira”. Estudos atuais demonstram como agente etiológico, um protozoário do gênero Sarcocystis, sendo hoje a espécie S. falcatula a responsável, diferente do que se acreditava há pouco tempo, onde a espécie responsável era a S. neuroma (RIET-CORREA, et al., 1998).
A MEP foi identificada pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1964, mas hoje já se conhece sua difusão por todas as Américas, dando destaque aos EUA, Canadá, Panamá e Brasil. Só dez anos depois de sua descoberta, foi identificado um protozoário semelhante ao Toxoplasma, em cortes histopatológicos.
Alguns estudos descrevem que os animais acometidos clinicamente tinham em média 8 anos de idade.
A MEP é uma doença esporádica, de ocorrência ocasional como epidemia em áreas restritas. Infecciosa, mas não contagiosa, sendo os eqüinos hospedeiros acidentais e terminais.
O hospedeiro definitivo é o gambá (Didelphis virginiana) (Fenger et al.,1997; Dubey et al., 2000). Esporocistos de S. neurona foram recentemente isolados de gambás no Brasil (Didelphis albiventris) (Dubey al., 2001b). O hospedeiro intermediário natural não é conhecido (Dubey al., 2001a). Experimentalmente verificou-se que os gatos podem atuar como hospedeiro intermediário.
Extrapolando o que se sabe sobre o gênero Sarcocystis, acredita-se que o cavalo infesta-se através da ingestão de esporocistos infectantes eliminados nas fezes dos hospedeiros definitivos (predadores), que podem ainda ser carreados pelos hospedeiros intermediários como aves e insetos (presas). Porém com relação ao S. falcatula isso ainda é apenas especulação.
Os esporocistos excistam no intestino delgado do eqüino, liberando esporozóitas que penetram no revestimento intestinal e entram na corrente sanguínea. Estes parasitas parecem obter acesso ao SNC pela penetração direta da barreira hematoencefálica. Também pode ocorrer entrada passiva dentro dos leucócitos. Os parasitas se multiplicam dentro dos neurônios e leucocitos, resultando em morte celular.
O início dos sinais clínicos pode ser gradual, porém é mais típico que esses sejam sinais discretos na fase aguda, às vezes com progressão muito rápida.
As lesões de medula espinhal parecem ser mais freqüentes que as ocorrentes no cérebro e, portanto os sinais de apresentação mais comuns são atribuíveis à lesão medular. Estes sinais são ataxia progressiva, e ocasionalmente, claudicação mau definida e de longa duração. Como este distúrbio provoca a degeneração das substâncias cinzenta e branca, tanto a astenia como a atrofia muscular são achados importantes da forma espinhal da afecção. Na prática, nota-se dificulade de andar em linha reta, dificulade de apoio nos giros (spins), dando “impressão” de “tontura”.
Alguns autores ainda citam que nos casos em que as lesões ocorrem no cérebro, as conseqüências também podem ser variáveis, dependendo, em grande parte, do local e da extensão das alterações. Assim nervos cranianos individuais podem tornar-se afuncionais, resultando em incapacitações bem definidas. Um efeito relativamente comum são as lesões unilaterais, envolvendo as funções motoras do nervo trigêmeo, e acarretando em dramática atrofia dos músculos masseter, digástrico e temporal, o que chega a ser considerado um sinal patognomônico em regiões endêmicas.
Em termos de patologia, as lesões são restritas ao SNC, sendo mais freqüentes na medula espinhal do que no cérebro. Dentro da medula são mais freqüentes na substância branca. São lesões de extensões variáveis e consistem de áreas de amolecimento e alteração da cor (vermelha ou marrom-acinzentada) em virtude de necrose e hemorragia. Microscopicamente, observam-se malácia (necrose) e reação inflamatória (mielite, mieloencefalite) não supurativa. Em cerca de 50% dos casos, o microorganismo não é observado nas preparações histológicas rotineiras.
A detecção dos anticorpos contra S. falcatula no liquor e no soro, é o teste mais útil para o diagnóstico clínico definitivo. Porém, esse exame envolve técnicas especiais (“westernblot”, PCR), normalmente não disponíveis nos laboratórios de diagnóstico do país. O liquor pode ser coletado dos espaços atlanto-occipital ou lombossacral, sendo este último, o de eleição, pois na maioria dos casos de MEP, as lesões estão situadas caudalmente ao espaço atlanto-occipital (nuca, primeiras vértebras). Deve ser levado em conta que cavalos clinicamente sadios podem apresentar anticorpos contra S. falcatula no liquor.
O diagnóstico presuntivo baseado nos sinais clínicos e na resposta ao tratamento específico são um bom método diagnóstico.
A MEP pode ser inicialmente confundida com outras enfermidades neurológicas dos equinos, daí a importância dos diagnósticos diferenciais, com traumas encefálicos, traumas medulares, mielopatia cervical estenótica, doença do neurônio motor, otite média/interna, mielite equina por herpesvírus, entre outras.
O tratamento consiste no uso de formulações comerciais orais, líquidas de sulfadiazina e pirimetamina, comercialmente preparada, na dose recomendada, uma vez ao dia. E ainda, uma segunda dose de sulfadiazina oral 12 horas mais tarde, tem sido recomendada, porém, sem comprovação da real eficácia. Nas duas situações o tratamento deve ser continuado por pelo menos 1 mês após o desaparecimento dos sinais. A média de duração deste tratamento está em torno de 4 meses.
Alguns autores indicam o uso de antiinflamatórios não esteroidais nas primeiras 1-2 semanas de tratamento e em qualquer momento que a condição possa piorar o quadro agudo do animal. A flunixin meglumine 2 vezes ao dia, é a mais recomendada, assim como a fenilbutazona, uma vez ao dia. O uso de corticóides deve ser evitado ao máximo devido aos efeito da imunodepressão.
Brow e Bertone (2005) cita como medicamento alternativo o diclazuril e toltrazuril de 5-10mg/kg, via oral, 1 vez ao dia, durante 28 dias, onde diversos testes os têm mostrado como muito eficientes, principalmente no que diz respeito às recidivas. Tornando-se hoje, o medicamento mais utilizado nestas situações.
Medidas como acompanhamentos periódicos, cama de maravalha com mais de 40 centímetros de altura, são recomendadas por todos os autores que foram revistos.



Enrique Noronha
Médico Veterinário – CRMV RS 09144
[email protected]
Apoio:
Pampa Produtos Veterinários Ltda.
 Fonte: www.cavalocompleto.com.br/colunas   Acessado dia 20 de março de 2009 às 7:29

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